quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Cozinha Japonesa: Fugu



Você já pensou em comer um prato venenoso? Pois o Fugu é um peixe venenoso muito apreciado na culinária japonesa.

Chamado em inglês de "Blow Fish", porque ele incha quando ameaçado, aparentando ter um tamanho muito maior, é conhecido no Brasil como "Baiacu", termo derivado do tupi-guarani. O Kanji (ideograma) "Fugu" significa "porco do rio", também chamado "Fuku" na região ocidental do Japão.

O Fugu possui órgãos venenosos que devem ser cuidadosamente extraídos pelo cozinheiro sob pena de matar seu apreciador. Este veneno, a Tetrodotoxina, é uma das duas toxinas mais letais existentes no mundo animal, sendo 10.000 vezes mais letal que o cianeto. Por isso sua comercialização foi proibida em vários países, como os EUA, com exceção de restaurantes japoneses credenciados. Em 2003 três japoneses morreram por consumirem o Fugu preparado em casa.

Muitos afirmam que o veneno presente na carne é o que confere ao Fugu um sabor muito especial. Existem no Japão escolas especializadas no preparo deste prato e geralmente o cozinheiro precisa ter um treinamento e uma autorização oficial para poder prepará-lo, pois cada tipo de Fugu tem o veneno num órgão diferente. Mesmo com todos estes cuidados, estima-se que cerca de 100 pessoas morram por ano intoxicadas pelo Fugu, embora esse número tenha um tendência a queda devido ao rígido controle governamental.

Apesar do risco calculado, o Fugu é considerado uma iguaria de primeira linha na culinária japonesa. Existem cerca de 40 espécies de Fugu no Japão, dos quais são consumidos 10.000 toneladas por ano. A cidade de Shimonoseki, na província de Yamaguchi, é conhecida como a "Terra do Fugu", sendo seu principal fornecedor.

Um prato de Fugu pode custar de US$ 100,00 a US$ 200,00 num bom restaurante japonês, especialmente a variedade "Tora-Fugu", a mais venenosa e considerada a mais saborosa.



Alguns pratos com Fugu:
Fugu-sashi  (fatias finíssimas de Fugu - foto acima)
Fugu-chiri (vegetais e Fugu imersos em uma sopa de konbu (alga))
Fugu Kara-age  (frito com farinha)
Fugu Hire-zake (grelhado e colocado em saquê quente.)


Curiosidade: O Fugu foi o segundo vertebrado a ter seu código de DNA totalmente decifrado, logo depois do Homem. Ele foi escolhido pelos cientistas por possuir um DNA muito compacto.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O que significa "Lao-Tzu"?


Depois de tanta coisa escrita sobre o Taoísmo, parece desnecessário voltarmos à origem, ao significado do nome do fundador oficial de nossa escola filosófica. Mas ainda vamos ter que esclarecer um ponto muito importante.

Infelizmente vemos muita bobagem dita sobre nosso ilustre fundador, Lao-Tzu (também grafado  "Laozi"). A mais comum é traduzir seu nome como "velha criança", "jovem idoso" ou outro disparate do gênero. Isso acontece por causa de um engano comum: "LAO" significa "velho" ou "idoso" e "TZU" ou "ZI" significa "criança" ou "filho".

O que mais me deixa espantado é que, ao invés de compreender a falta de sentido desta afirmação, procura-se interpretar isso à luz da filosofia taoísta! O fato dos textos do Tao Te Ching serem muitas vezes incompreensíveis ou aparentemente ilógicos (para os não-iniciados, claro) contribui bastante para que qualquer coisa sem sentido seja interpretado como "alta filosofia" dentro do Taoísmo.

O engano aqui é muito claro. O ideograma "Tzu" (o de baixo, na ilustração) significa "criança" em chinês moderno, mas era utilizado como título de nobreza em eras passadas, similar a "visconde". Com o tempo esse termo passou a designar pessoas de grande valor, de grande mérito, superiores às pessoas comuns. Por isso o vemos repetidamente aparecer em Chuang-Tzu, Mo-Tzu, Huai Nan-Tzu, Kong Fu-Tzu (Confúcio). Apenas isso já bastaria para mostrar o erro de tradução, ou será que acharam que se tratava de um bando de crianças? (Tem gente que acha que são todos parentes por terem o mesmo "sobrenome"...)

Na verdade "Lao-Tzu" é um título, pois seu nome verdadeiro era Li Ehr. Poderíamos traduzí-lo mais corretamente por "Velho Mestre" ou "Venerável Ancião". Também podemos dizer "Mestre Lao", pois em chinês o título acabou sendo considerado um nome depois de mais de 2.000 anos de utilização. Uma curiosidade interessante sobre o ideograma "lao" é que ele representa uma pessoa cujos cabelos sofrem mudança ou seja, ficam brancos. Daí a conotação com "velho" ou "idoso".

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pobre Feng Shui





Semana passada liberei para venda um pequeno lote de 10 exemplares de meu curso "Dominando o Feng Shui", que não era comercializado desde 2008. Um curso rico em cultura e filosofia oriental e que leva seus estudantes a um mergulho profundo em áreas muito pouco divulgadas no Brasil. Mas é muito difícil lidar com este assunto hoje em dia, como mostram algumas mensagens que eu recebo.

Quando se fala em Feng Shui grande parte das pessoas já diz logo "Ah, sei, eu já estudei isso". Mas na verdade o que ela estudou foi uma enganação criada na Califórnia chamada "Escola do Chapéu Preto". Nada a ver com metafísica chinesa, nada a ver com cultura chinesa. Coisa simples e rápida para os otários da América do Norte, que detestam pensar e querem tudo "fast". Essa tapeação foi muito difundida por revistas dedicadas ao universo feminino, ao lado das fofocas de novela e dos métodos de emagrecimento tipo "perca 5Kg em dois dias".

Bem, isso atrapalhou bastante o acesso das pessoas ao conhecimento real desta técnica. Quando vê estas palavras, "feng shui", grande parte dos interessados já descarta o assunto como algo conhecido. Mas o universo do Feng Shui é MUITO grande e pode-se, literalmente, estudar a vida inteira sem concluir os estudos. Aí entramos em outro problema: os que conhecem a diferença entre Feng Shui tradicional e o "outro" se assustam com o verdadeiro Feng Shui! Acham que terão que aprender chinês e passar anos estudando algo incompreensível e acabam se afastando disso. Reconhecem sua validade, mas acreditam que não seja para elas. Grande engano!

Feng Shui chinês é uma técnica de harmonização de ambientes muito eficiente e possui uma bagagem cultural apaixonante. Se ensinado de maneira apropriada, é fácil de aprender embora necessite de alguma dedicação, como qualquer estudo sério.

Lamentavelmente muitas portas se fecharam para o Feng Shui legítimo, estigmatizado por técnicas sem nexo inventadas por "consultores" que nunca abriram um exemplar do I Ching. Fica aqui um alerta para que você procure se informar sobre esta técnica chinesa e conhecer alguma coisa mais profunda. Se gosta de cultura oriental, o Feng Shui possui elementos ligados à culinária, medicina chinesa, artes marciais e astrologia. É uma escola na qual você irá vivenciar muito da filosofia taoísta em sua própria casa. Algo imperdível.

domingo, 8 de novembro de 2009

O Som do Silêncio


Hoje estava estudando um livro sobre aperfeiçoamento pessoal. Ao longo da leitura me dei conta do ruído do relógio de parede: tique-taque-tique-taque. Quando você escuta o barulhinho desse tipo de relógio você percebe que existe um grande silêncio ao seu redor. De fato, é frequente que não se ligue rádio nem tv em minha casa. Simplesmente desfrutamos de algum livro ou trabalhamos no computador, sem ruídos externos. Talvez você estranhe esse procedimento, pois nossa cultura atual procura encher nossas vidas de barulho. Em geral a primeira coisa que se faz ao chegar em casa é ligar o rádio, colocar um CD ou ligar a TV (mesmo que ninguém vá assistir diretamente a ela).

Nesse tipo de cultura barulhenta, ficar quieto parece coisa do outro mundo. Vários alunos já manifestaram sua surpresa quando mencionei isso em aula. Ficar sentado, lendo, sem nenhum aparelho ligado tocando música ou outra coisa, se tornou algo raro. Acredito que meu prazer pelo silêncio se deva em grande parte à minha dedicação à cultura oriental. Os orientais procuram no silêncio as respostas que não aparecem no barulho. Quando silenciamos os ouvidos, a mente começa a prestar atenção nos pensamentos. A introspecção é parte fundamental das práticas orientais, pois é mais fácil procurar a Verdade dentro de nós do que no mundo exterior. Se muitas pessoas se voltassem para dentro de si mesmas ao invés de procurar respostas fora, teriam vidas mais tranquilas e fáceis. Os cristãos buscam a Deus incessantemente no “céu” enquanto ele está calmamente dentro de nossos corações.

Quando eu digo “silêncio” não quero dizer uma ausência absoluta de sons. Sabemos que isso é quase impossível, especialmente me nossos dias. Os ruídos externos são naturais e tendem a desaparecerem quando deixamos de prestar atenção neles. Os barulhos que nós provocamos é que causam grande transtorno. Silêncio total é muito raro. Me lembro de algumas vezes, quando era pequeno e passava férias na fazenda de parentes, de ficar parado no campo já arado e pronto para o plantio, e meus ouvidos zumbiam de tanto silêncio. É interessante, mas quando existe um silêncio tremendo escutamos nosso próprio corpo. Foi uma experiência que me marcou muito essa ausência quase total de som. Uma plantação já crescida tem muitos barulhos, de folhas ao vento, por exemplo. Mas na terra nua, arada e ainda vazia, nada perturba o silêncio.

Quando ficamos em silêncio podemos contemplar nossa mente e compreender melhor nossos pensamentos. A importância disso deveria ser óbvia, pois somos o que pensamos. Procure diminuir o barulho ao seu redor e fique alguns minutos por dia, sentado no silêncio. Não precisa “meditar” propriamente dito, mas uma simples contemplação de seus pensamentos. Existem três níveis para se atingir a hiperconsciência, segundo a filosofia indiana: Dharánna, Dhyanna e Samádhi – sucessivamente contemplação, meditação e transcendência. Comece pelo começo. Será uma experiência bastante enriquecedora.

sábado, 7 de novembro de 2009

O I Ching como livro filosófico




O Livro das Mutações é bastante conhecido no Ocidente como uma forma de oráculo, apto a desvendar os segredos que se escondem no futuro dos seres humanos. Mas a coisa não se resume a isto. O I Ching, mais do que tudo, é um excepcional livro de sabedoria que marcou profundamente a civilização chinesa desde seu nascimento.


É uma pena que a idéia de ”ver o futuro” acabe por banalizar esta obra magistral. Vemos amiúde aparecer em bancas de jornais, revistas com versões pobres e distorcidas do I Ching como um meio fácil de saber o futuro.


Os fundamentos contido no I Ching serviram de inspiração a toda uma civilização de sábios, filósofos e sacerdotes. Suas características únicas fizeram com que esta obra, que possui mais de 3.500 anos, se tornasse atual mesmo em nossos dias. Mas qual o segredo por trás desta característica única do I Ching?


Basicamente, esta obra se alicerça no conceito de mutação, ou seja, da permanente mudança cíclica de eventos, sejam humanos, cósmicos ou siderais. Se pensarmos profundamente nisto, veremos que a própria essência do Universo é revelada nesta obra, pois tudo permanece em um constante e ininterrupto processo de destruição e criação. Isto nunca muda, por isto a espantosa atualidade da obra.


Claro que um texto escrito há tantos milhares de anos deve ter algum cuidado em sua interpretação, conforme explicamos. Mas para se obter o conteúdo filosófico do livro é necessário que se leia por entre as linhas do texto e se restabeleça a ligação com suas idéias centrais. Muitas vezes somos obrigados a recorrer à história para tentar compreender o significado de um determinado hexagrama em seu contexto original, mas a idéia e a lição por trás deste texto pode ser compreendida de maneira bastante geral, bastando apenas um firme propósito de desvendar seus segredos.


À partir do momento em que se encara o I Ching como mais do que um “tarô com moedas” (ou varetas), pode-se aprofundar em sua essência verdadeira e captar a sabedoria que está programada em seu núcleo central. Podemos fazer isto de diversas maneiras, mas basicamente por leitura completa ou pela leitura do texto de cada hexagrama.

Por "leitura completa" compreendemos ler esta obra do início ao fim, como se fosse um livro de filosofia, cada capítulo nos leva ao próximo, pois existe uma ligação entre um capítulo e seu anterior e posterior. Por exemplo, o capítulo "Paz" é precedido por "A Conduta" e sucedido por "Estagnação". Isso nos mostra que a conduta correta no Caminho leva à paz, mas que uma paz muito prolongada enfraquece nossos sentidos, levando à estagnação. Mas como se livrar da estagnação? O próximo capítulo é "União" - preciso dizer mais?


NOTA: Este texto é parte do Capítulo 9 do livro "I Ching - Manual do Usuário", de minha autoria, ainda sem editora definida.