segunda-feira, 8 de março de 2010

Avatar e Matrix



Ontem foi a festa do Oscar e aconteceu o que se esperava: Avatar ficou com os prêmios técnicos. Como sempre, uma ficção científica com muitos efeitos especiais não tem chance de ganhar nada mais. Dá para entender ao ver a reação do José Wilker, comentarista da Globo no Oscar, que acha que esse tipo de filme só tem efeitos especiais e não tem "conteúdo". Por "conteúdo" entenda-se choradeira, desgraças variadas, cenas sem nexo, violência realista, compromisso ideológico ou simplesmente "denúncias" sociais. Coisa que o cinema brasileiro está cheio, embora esteja vazio de público. O que faz sucesso aqui (como em qualquer outro lugar respeitável do planeta) é o cinema tradicional, de ENTRETENIMENTO. A mensagem filosófica fica nas entrelinhas (sempre existe uma) e deve ser mais pensada. Talvez por isso os intelectuais brasileiros não consigam descobrir...

Mas vamos ao nosso artigo de hoje. Não podemos deixar de comparar Avatar com Matrix: dois filmes de ficção científica, com efeitos especiais revolucionários e uma mensagem mais profunda, similar à das filosofias orientais.

O cerne de Matrix é a natureza ilusória de nosso cotidiano, similar ao conceito de "maya" do Budismo. Uma das cenas finais, minha favorita, mostra Neo começando a perceber que o universo em que vivia era apenas informação, uma ilusão. Ele começa a ver tudo como códigos de computador, a "verdadeira natureza" daquele universo. Isso é uma descrição muito exata da iluminação conforme atestam os orientais. Em seguida ele parece adquirir superpoderes, o que também possui sua raiz na filosofia oriental: uma pessoa que está consciente da verdadeira natureza das coisas adquire a habilidade de alterar essa natureza.

Se Matrix busca o Budismo, Avatar busca o Taoísmo. A relação de interação harmoniosa entre a tribo de seres azuis e seu ambiente é uma das idéias por trás da filosofia taoísta. Ser um com o todo é uma das metas do Taoísmo, desenvolvido através da meditação e de outras técnicas.

No filme vemos o contraste dos nativos com os militares, que enxergam nas árvores apenas "lenha em pé". Quantas pessoas hoje não pensam assim? Mas tudo está conectado, como o filme transmite muito bem em seu final. A idéia de que um planeta pode ser considerado como um ser vivo pela interação de suas criaturas é bem conhecida. Inclusive o mito da criação dentro da mitologia chinesa remete a um gigante, Pan Gu, cujas partes do corpo originaram tudo o que existe em nosso planeta: cabelos viraram florestas, seu hálito tornou-se os ventos e a brisa, seu sangue os rios e assim por diante. Na ciência, a idéia do "planeta vivo" é chamada de "Hipótese Gaia".

Se tudo está em tudo, então qualquer coisa que agrida outro ser também nos agride. Isso inclui plantas e animais também.

Em Avatar, até montar a cavalo depende de uma interconexão entre cavaleiro e montaria. Não vou me estender nos comentários para não atrapalhar quem ainda não assistiu ao filme. Assista, não porque ganhou alguns Oscars, mas porque pode explicar muito bem a direção que devemos seguir em nosso planeta.

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