domingo, 26 de agosto de 2012

Ideogramas e a Educação na China


Postei uma notícia aqui no blog, tradução de uma matéria do jornal Herald Tribune americano, logo abaixo, mostrando uma certa preocupação na inadequabilidade dos ideogramas chineses para um "mundo globalizado". Eu não poderia deixar de comentar um texto tão polêmico. 

Em primeiro lugar, os ideogramas formataram a cultura chinesa e não se poderia expressar corretamente seus conceitos milenares sem eles. Essa é a verdade. Quando vamos traduzir um ideograma, temos que traduzir toda uma IDEIA, como o próprio nome afirma (ideo= ideia, grama= grafia). Isso implica em que cada ideograma traz todo um conjunto de conceitos e não se restringe a uma mera palavra denominativa. Por exemplo, o ideograma tradicional utilizado hoje para "país", significava originalmente "império" e era utilizado para designar a própria China, Zhong Guó - o "Império do Meio". Ao lado vemos o ideograma original. 

Desmontando a figura percebemos que "guó" simboliza:
- um grande território (o quadrado em volta)
- com uma capital central (o quadrado menor com um traço embaixo)
- mantido por força militar (o desenho à direita, "wu", militar ou marcial)

Portanto, se você utilizar apenas o pinyin "guó" ou a tradução "país", você não tem quase nada do enorme simbolismo do caracter. Uma obra como o I Ching, o "Livro das Mutações", não passa de um livro de bolso no original em chinês. No Ocidente, são volumes com mais de 300 páginas, para conseguirem explicar mais ou menos os ideogramas. O mesmo acontece com o tão badalado "A Arte da Guerra" e o "Tao Te Ching", que também não passam de um pequenos livros de bolso

O chinês é realmente difícil de aprender, mas Shanghai, província da China, levou o primeiro lugar  no teste internacional de qualidade educacional (PISA) em 2009, que é realizado a cada três anos com jovens de 15 anos de idade. E mais: a China levou o primeiro lugar em todas as áreas analisadas: matemática, ciências e leitura.

O Brasil, com poucas letras e aprendizado muito mais fácil, só faz passar vergonha. Quando o teste começou, em 2000, entre 32 países ficamos em último lugar. Nesta última edição, que tinha 65 países, ficamos entre a 53ª e 57ª posição.

Logo, não são os ideogramas que atrapalham a educação. Isso desmonta a ideia mostrada pelo pobre blogueiro citado no artigo que acredita que os ideogramas prendem a China ao passado e a tornam "anti-científica" (como se a ciência fosse a única verdade do universo...). Ora, os alunos chineses se saem melhor que europeus e americanos no quesito ciência, também. Logo essa opinião não é válida. A China passou por intensa ocidentalização no Período Republicano (1911-1949) e isso quase levou à falência da cultura chinesa.

O artigo também afirma que os jovens estão "experimentando" com letras ocidentais e usando abreviaturas em comunicações online. Isso também acontece aqui no Brasil e não significa que usar "tc" para "falar"("teclar", no caso) ou "vc" para "você", seja uma revolução linguística. Aliás, isso pode ser prejudicial ao aprendizado da escrita em nossa língua.

Levemos também em consideração que a China é formada por 54 etnias, cada uma delas com sua própria língua. O que sempre manteve o país unido foi justamente a escrita ideográfica, pois ao não ser fonética ela permite que todos os idiomas se expressem da mesma forma por escrito.

Portanto, o uso de ideogramas é complicado, mas possui uma riqueza de significado e uma importância cultural absolutamente inigualável.

Gilberto Antônio Silva

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