sexta-feira, 17 de junho de 2011

Folha de S. Paulo Discrimina Orientais


  
 Já havia percebido há algum tempo a hipocrisia do debate sobre racismo no Brasil. É sempre a mesma ladainha do “branco” opressor e do “negro” vítima, mesmo quando existe outros tipos de racismo.

Ontem, o site “Folha.Com”, versão online do jornal paulista “Folha de S. Paulo”, estampou uma notícia sobre a decisão do STF de liberar a chamada “Marcha da Maconha” por questão de liberdade de expressão (1). Nada contra.

Mas ao ler os comentários dos leitores, me deparei com a seguinte expressão, utilizada para retrucar um comentário de leitor com nome fortemente oriental: “cabeça de japa abilolado”. Francamente, estou farto de ler observações ofensivas e estereotipadas referente aos orientais. Fiz uma denúncia aos moderadores da Folha por racismo. A mensagem foi retirada do ar e retornou horas depois, sinal de que não havia sido notado nada de problemático com a expressão. Muito bem.

É bom que os leitores deste blog saibam que o sistema de comentários da Folha online é um dos mais filtrados que existem na internet. As mensagens são liberadas automaticamente se não tiverem qualquer “palavra proibida”, caso contrário são encaminhadas para moderação manual. Essas palavras proibidas não são listadas nas regras de utilização, então encontramos coisas curiosas como “gay”, “racista”, “hipócrita”, “pt” (sim, o partido) e “folha” (o santo nome do jornal sendo usado em vão leva direto à moderação). Com certeza falta transparência sobre isso. Certa vez escrevi um comentário analisando um artigo e foi um sufoco fazê-lo passar direto para aprovação. Não escrevi nada de mais, mas o sistema automático reagiu a palavras que eu nem sabia serem ofensivas. Deveria tê-las guardado para montar um dicionário do que não escrever por lá.

Voltando ao assunto, é interessante como o racismo é “combatido” através de mais preconceito. Muita gente, até jornalistas em atividade, acredita que “racismo” seja preconceito de branco contra negro. Um destes escribas jornalísticos relatou um caso de discriminação de negro contra branco como “racismo às avessas”. Avessas de quê, cara-pálida? Racismo é racismo, ou seja, discriminação por causa de “raça” (como essa definição infeliz não existe cientificamente, no Brasil se optou por examinar o tom de pele do cidadão - na prática deixou de ser “racismo” para ser “corsismo”).

No caso citado, “cabeça de japa abilolado” pode ser escrito, segundo a Folha de S. Paulo. Mas se eu escrevesse “cabeça de negão abilolado”, isso nunca passaria. Este é o problema! Chamar um cidadão de “japoronga” é aceito, mas de “negão”, não. Então toda essa questão de combate ao racismo é hipocrisia e é, na verdade, uma política para negros. Só deles é que não se pode caçoar. De outros, pode.

No aniversário de S. Paulo, em janeiro deste ano, assisti impressionante cortejo de artigos ofensivos aos paulistas editados em jornais daqui, mesmo (incluindo a Folha). Sinal de que discriminação de origem regional (previsto em lei) só vale para nordestinos. Falar mal de São Paulo, pode. Mais hipocrisia do “politicamente correto”.

Vamos aproveitar esse momento para lembrar alguns fatos curiosos. Primeiramente, lembramos que os orientais são, realmente, a minoria étnica brasileira (0,5% da população). Então eles precisam de cotas para universidades? Não, não precisam. Eles detêm grande parte das vagas disponíveis, obtidas através do óbvio: forte dedicação ao estudo. Os orientais, em sua maioria, frequentaram as mesmas escolas que os brancos e negros, mas no vestibular passam na frente. Pretendo analisar essa questão de educação em um post exclusivo, que escreverei em breve. E que ninguém diga que não existe preconceito contra orientais! Vi muito disso em minha vida. Trabalho com orientais há mais de 30 anos e sou casado com uma sansei. Já quase bati em um grupo dentro do ônibus que fez uma gracinha com ela enquanto eu descia. Só não arranquei algum infeliz do coletivo porque não consegui identificar o autor. Quando viram que a coisa ia pegar ficaram mudos e calados. Preconceito contra orientais existe, sim, e bastante. Cite meia dúzia de políticos brasileiros orientais, ou cinco artistas de tv, ou três cantores.

Mas os orientais estão aí, sem reclamar, conquistando o respeito das pessoas pela sua dedicação, esforço e competência. Porque respeito se conquista, não se impõe. Não podemos esquecer a maior injustiça étnica que o governo brasileiro já realizou, que foi a exclusão dos orientais das comemorações dos 500 anos do Brasil. Para o governo, brancos, negros e índios participaram do desenvolvimento brasileiro, mas os orientais não. A desculpa na época foi que eles haviam chegado “depois”, mas isso não inviabilizou as colossais contribuições para o progresso brasileiro que realizaram e continuam realizando todos os dias, especialmente nas áreas agrícola, médica e tecnológica. Parece que, realmente, discriminação racial só vale para os negros.

Fica anotado aqui, então, que o jornal Folha de S. Paulo discrimina orientais e aceita termos ofensivos contra esses povos que ajudam a construir a grandeza do Brasil. Em silêncio.

   

8 comentários:

  1. Alberto dos Santos Sakata.11 de dezembro de 2011 às 12:30

    Concordo em gênero, numero e grau. Há sim racismo contra os orientais meu amigo, mas a sociedade é hipócrita demais para admitir isso.

    De uma certa forma invejo os afrodescendentes que tomaram a postura correta de se impor e exigir seu direito de ser tratado como um "ser-humano" e não mais ser definido apenas pela sua etnia. Até por este motivo hoje realizar piadinhas sobre negros no brasil em qualquer veiculo de comunicação é considerado racismo, mas como os orientais sempre preferiram permanecer em silêncio diante de ofensas deste tipo, a população considera normal e até engraçado utilizar termos pejorativos como "japa", "japoronga".. "abre os olhos" e etc... Quando isso é divulgado em qualquer midia, não é considerado racismo, apenas uma piada qualquer. Isso prova que hoje a maioria da população não deixou de utilizar palavras racistas contra um afrodescendente porque aprendeu a respeita-lo como pessoa, mas simplemente porque não deseja ser taxado de racista.

    Sei que para quem nunca sofreu o preconceito, é dificil de compreender esta realidade. Sou oriental e minha esposa é ocidental. Depois de alguns anos de casados ela percebeu o forte preconceito racial que existe no Brasil contra os orientais. É uma realidade triste e uma batalha interminavel porque somos obrigados a lutar contra isso todos os dias.

    Meu melhor amigo de infância, eu diria que meu irmão de vida é afrodescendente, e juntos deixamos de frequentar diversos lugares, ora por preconceito contra japoneses e outras por preconceito contra negros. Felizmente há alguns com inteligência suficiente para definir uma pessoa pelas suas atitudes e não pela sua descendência, cor ou credo. Não vou mudar o que sou por causa da repressão social e de todos os ataques racistas que sofremos diariamente.

    Espero que um dia o mundo aprenda a enxergar em seu semelhante um ser-humano e não um monte de rótulos, conceitos enlatadas e todo o resto desse lixo social que se diz modernamente globalizado.

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  2. Racismo não escolhe cor, é tudo igual. Eu sou ocidental e já fui muito discriminado por... orientais! Já vi discrinação de todo tipo e de todos os lados. Mas não se pode conceber esse tratamento (menos ainda!) em um veículo jornalístico!

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  3. Alberto dos Santos Sakata15 de dezembro de 2011 às 08:20

    Pois é, irônia do destino, ao tentarmos frequentar e respeitar as duas culturas, acabamos em muitas situações nos isolando.
    Minha esposa e eu deixamos de frequentar alguns eventos familiares, porque eu não desejo que ela seja vitima de racismo contra ocidentais e ela por não desejar que eu seja vitima de racismo contra orientais.

    No final, os que sofrem, são justamente as pessoas que não suportam o preconceito.

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  4. Eu gosto muito de orientais e odeio qualquer tipo de preconceito, mas muitos orientais também são preconceituosos e racistas!

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  5. Estou impressionado com este seu post Gilberto, você tem e teve uma visão muito clara do que acontece neste país de hipocrisia.. São poucos os que notam preconceito, ou mesmo sabem que são preconceituosos contra os orientais, eu sou oriental e já sofri muito preconceito.. Eu estava pensando, que os brancos por terem mais opinião, ou seja, por serem mais aceitos nessa sociedade, não só aqui mas como em grande parte do mundo, tem muito mais voz até mesmo para defender essa classe, dos orientais, pois ninguém ouviria um oriental reivindicando seus direitos, no geral por ficarem muito na deles as pessoas se confundem e pensam serem fracos, assim os fazem de bobos, e os mesmos por serem a minoria não lutam, pois seriam mais debochados. Meus Parabéns pelo seu trabalho Gilberto eu concordo com tudo o que você escreveu, por isso você tem o meu respeito.

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  6. Pra se ver que vida de oriental no Brasil não é fácil, o cara pode ser bem suceido profissionalmente e financeiramente mas mesmo assim isso não se traduz em respeito e admiração, mas em inveja.

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  7. Interessante o seu texto. Eu sou descendente de japoneses e, claro, também já sofri preconceito. Mas não foi nada de grave. Aconteceu algumas vezes quando eu era criança e adolescente. Mas, no geral, sempre me dei muito bem com ocidentais. Eu, particularmente, até acho mais fácil lidar com ocidental do que com orientais. Acho que os descentes de japoneses sofrem preconceito porque são minoria no Brasil e em consequência disso, ficam mais vulneráveis, pois uma vez que você é minoria em um lugar, é mais complicado de se defender e de conseguir apoio. Mas isso também depende muito de onde o sujeito mora. Dependendo do lugar, vai sofrer mais preconceito sim. Eu cresci no interior de SP e foi muito bom, pois foi fácil de fazer amizades e de se divertir. Cresci no meio de descendentes de portugueses, espanhóis e italianos, e sempre me dei bem com eles. Claro que tem um ou outro que tem preconceito, mas isso acontece de ambos os lados. Também há brasileiros descendentes de japoneses, principalmente os velhos, que são preconceituosos também. Outra coisa que é importante de salientar é que a mídia em geral acaba que por criar um esteriótipo estúpido dos japoneses, o que faz com que os brasileiros menos informados, acabem tendo uma visão totalmente distorcida dos japoneses.

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  8. Disse tudo. Orientais ajudaram a construir o Brasil. Com sangue e suor. Dos trabalhos mais simples até conquistarem cargos altos na sociedade mas parece que nunca seremos brasileiros aos olhos da sociedade. Não temos este "direito". Sempre seremos "japas" sem nome. Mas o pior é quando a mídia ao invés de ajudar a disseminar o mínimo de respeito ao próximo só faz o contrário. Estereotipa e generaliza. Além do preconceito contra orientais sempre permear a "brincadeira sem maldade".

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