sábado, 7 de novembro de 2009

O I Ching como livro filosófico




O Livro das Mutações é bastante conhecido no Ocidente como uma forma de oráculo, apto a desvendar os segredos que se escondem no futuro dos seres humanos. Mas a coisa não se resume a isto. O I Ching, mais do que tudo, é um excepcional livro de sabedoria que marcou profundamente a civilização chinesa desde seu nascimento.


É uma pena que a idéia de ”ver o futuro” acabe por banalizar esta obra magistral. Vemos amiúde aparecer em bancas de jornais, revistas com versões pobres e distorcidas do I Ching como um meio fácil de saber o futuro.


Os fundamentos contido no I Ching serviram de inspiração a toda uma civilização de sábios, filósofos e sacerdotes. Suas características únicas fizeram com que esta obra, que possui mais de 3.500 anos, se tornasse atual mesmo em nossos dias. Mas qual o segredo por trás desta característica única do I Ching?


Basicamente, esta obra se alicerça no conceito de mutação, ou seja, da permanente mudança cíclica de eventos, sejam humanos, cósmicos ou siderais. Se pensarmos profundamente nisto, veremos que a própria essência do Universo é revelada nesta obra, pois tudo permanece em um constante e ininterrupto processo de destruição e criação. Isto nunca muda, por isto a espantosa atualidade da obra.


Claro que um texto escrito há tantos milhares de anos deve ter algum cuidado em sua interpretação, conforme explicamos. Mas para se obter o conteúdo filosófico do livro é necessário que se leia por entre as linhas do texto e se restabeleça a ligação com suas idéias centrais. Muitas vezes somos obrigados a recorrer à história para tentar compreender o significado de um determinado hexagrama em seu contexto original, mas a idéia e a lição por trás deste texto pode ser compreendida de maneira bastante geral, bastando apenas um firme propósito de desvendar seus segredos.


À partir do momento em que se encara o I Ching como mais do que um “tarô com moedas” (ou varetas), pode-se aprofundar em sua essência verdadeira e captar a sabedoria que está programada em seu núcleo central. Podemos fazer isto de diversas maneiras, mas basicamente por leitura completa ou pela leitura do texto de cada hexagrama.

Por "leitura completa" compreendemos ler esta obra do início ao fim, como se fosse um livro de filosofia, cada capítulo nos leva ao próximo, pois existe uma ligação entre um capítulo e seu anterior e posterior. Por exemplo, o capítulo "Paz" é precedido por "A Conduta" e sucedido por "Estagnação". Isso nos mostra que a conduta correta no Caminho leva à paz, mas que uma paz muito prolongada enfraquece nossos sentidos, levando à estagnação. Mas como se livrar da estagnação? O próximo capítulo é "União" - preciso dizer mais?


NOTA: Este texto é parte do Capítulo 9 do livro "I Ching - Manual do Usuário", de minha autoria, ainda sem editora definida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário