domingo, 8 de novembro de 2009

O Som do Silêncio


Hoje estava estudando um livro sobre aperfeiçoamento pessoal. Ao longo da leitura me dei conta do ruído do relógio de parede: tique-taque-tique-taque. Quando você escuta o barulhinho desse tipo de relógio você percebe que existe um grande silêncio ao seu redor. De fato, é frequente que não se ligue rádio nem tv em minha casa. Simplesmente desfrutamos de algum livro ou trabalhamos no computador, sem ruídos externos. Talvez você estranhe esse procedimento, pois nossa cultura atual procura encher nossas vidas de barulho. Em geral a primeira coisa que se faz ao chegar em casa é ligar o rádio, colocar um CD ou ligar a TV (mesmo que ninguém vá assistir diretamente a ela).

Nesse tipo de cultura barulhenta, ficar quieto parece coisa do outro mundo. Vários alunos já manifestaram sua surpresa quando mencionei isso em aula. Ficar sentado, lendo, sem nenhum aparelho ligado tocando música ou outra coisa, se tornou algo raro. Acredito que meu prazer pelo silêncio se deva em grande parte à minha dedicação à cultura oriental. Os orientais procuram no silêncio as respostas que não aparecem no barulho. Quando silenciamos os ouvidos, a mente começa a prestar atenção nos pensamentos. A introspecção é parte fundamental das práticas orientais, pois é mais fácil procurar a Verdade dentro de nós do que no mundo exterior. Se muitas pessoas se voltassem para dentro de si mesmas ao invés de procurar respostas fora, teriam vidas mais tranquilas e fáceis. Os cristãos buscam a Deus incessantemente no “céu” enquanto ele está calmamente dentro de nossos corações.

Quando eu digo “silêncio” não quero dizer uma ausência absoluta de sons. Sabemos que isso é quase impossível, especialmente me nossos dias. Os ruídos externos são naturais e tendem a desaparecerem quando deixamos de prestar atenção neles. Os barulhos que nós provocamos é que causam grande transtorno. Silêncio total é muito raro. Me lembro de algumas vezes, quando era pequeno e passava férias na fazenda de parentes, de ficar parado no campo já arado e pronto para o plantio, e meus ouvidos zumbiam de tanto silêncio. É interessante, mas quando existe um silêncio tremendo escutamos nosso próprio corpo. Foi uma experiência que me marcou muito essa ausência quase total de som. Uma plantação já crescida tem muitos barulhos, de folhas ao vento, por exemplo. Mas na terra nua, arada e ainda vazia, nada perturba o silêncio.

Quando ficamos em silêncio podemos contemplar nossa mente e compreender melhor nossos pensamentos. A importância disso deveria ser óbvia, pois somos o que pensamos. Procure diminuir o barulho ao seu redor e fique alguns minutos por dia, sentado no silêncio. Não precisa “meditar” propriamente dito, mas uma simples contemplação de seus pensamentos. Existem três níveis para se atingir a hiperconsciência, segundo a filosofia indiana: Dharánna, Dhyanna e Samádhi – sucessivamente contemplação, meditação e transcendência. Comece pelo começo. Será uma experiência bastante enriquecedora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário